sábado, 19 de janeiro de 2013

Saudade da Minha Terra


Ontem eu fui à Avenida Paulista cuidar de melhorar um pouquinho a vida aqui na cidade. Saí do metrô e passei em frente a um senhor que estava tocando sanfona. Não sei se ele estava tocando baixinho ou se o barulho da avenida estava abafando a música. Achei interessante uma sanfona no meio da bagunça que é aquela calçada e segui.

Depois de fazer a tal matrícula para o tal curso, voltei para o mesmo lugar para esperar pelo ônibus e o senhorzinho ainda estava lá. Não tenho certeza se ele estava tocando mais alto ou se meus ouvidos estavam mais atentos.

Olhei na direção dele e vi que a família estava em volta. Aparentemente esposa, filho mais velho e filha mais nova. Ou filha e netos, nunca vou saber... O fato é que ele começou a tocar uma melodia bem familiar, que me levou à infância por alguns instantes. Uma música que me trouxe memórias doces, de família, de casa cheia, de comida de mãe e irmãos por perto.

Essa canção costumava me fazer chorar durante os quatro anos em que morei fora do Brasil. Um choro de saudade, choro bom de quem tem de quem sentir falta.

Obviamente aquele senhor da sanfona não tinha a menor ideia do que estava provocando no meu coração.

Saí do ponto de ônibus e fui até ele com uma nota de cinco reais. Deixei na caixa do instrumento e, feliz, pude ver que havia outras notas lá dentro. Cinco reais foi muito pouco pra todo o bem que ele me fez, eu sei, mas acho que para aquela família talvez tenha algum significado.

Talvez para o músico, como para mim, ainda exista um pouco daquele romantismo onde dinheiro não significa tanto quanto o prazer que a música proporciona. Acredito nisso porque na hora em que deixei a nota, fiz um elogio: "tá bonito, moço" e a resposta veio na forma de um sorriso de poucos dentes e muita sinceridade.

Entrei no ônibus com a música viva na cabeça e ela ainda está aqui. Por isso quis dividir...

"De que me adianta viver na cidade se a felicidade não me acompanhar. Adeus paulistinha do meu coração, lá pro meu sertão eu quero voltar. Ver a madrugada, quando a passarada fazendo alvorada começa a cantar. Com satisfação arreio o burrão, cortando o estradão saio a galopar. E vou escutando o gado berrando, o sabiá cantando no jequitibá."

Essa é a versão de "Saudade da Minha Terra" que eu mais gosto, com Milionário e Zé Rico. Não tem vídeo, mas a música compensa.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Feliz ano velho!

Era uma vez o ano.
Ele era muito querido, todos falavam bem dele, até o dia em que as pessoas passaram a não se importar mais com a sua presença. Isso o incomodava um pouco, mas não chegava a ser um problema.
Aí veio a época em que ninguém mais falava bem do bendito ano, todos queriam que ele fosse embora, diziam que já não aguentavam mais te-lo por perto.
O ano ficou triste...
E pensou.
Queria muito que as pessoas voltassem a gostar dele, mas o que fazer?
Foi então que ele teve uma ideia brilhante: ia mudar, ficar diferente, outro nome, outras roupas, e todos iam voltar a gostar dele e ele seria novamente bem vindo.
E não é que deu certo?
Ele era o mesmo ano, com todos os defeitos e as qualidades de sempre. Era exatamente o que tinha sido no último dia primeiro de janeiro, ou 30 de março, ou quatro de junho, ou 12 de outubro, mas estava de roupas novas, e trazia uma sutil mudança em seu nome.
E foi suficiente.
Todos voltaram a olhar pra ele com admiração e carinho. Todos falavam dele com paixão e esperança, acreditavam que ele era portador de boas notícias.
Mas ele era só o mesmo velho ano, com roupas brancas e uma garrafa de champagne na mão.