quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sentada na janelinha

Já faz algum tempo, eu decidi que só escolheria os acentos do corredor nas minhas viagens de avião. É muito mais prático na entrada, na saída, se você quer ir ao banheiro, quando a aeromoça vai te entregar a sua bebida... Enfim, muito mais simples. A verdade é que, com o tempo, acabei perdendo aquele negócio infantil de ficar olhando pela janela e vendo formas nas nuvens e tudo tão pequenininho lá embaixo.

Daí outro dia tive que ir a Denver (uma cidade que achei bem agradável, por sinal) e voltei a NY em uma noite de sexta-feira. Como sempre, a minha reserva dizia que eu estava sentada no corredor, mas, por engano no check in, eu acabei ficando com uma janela. Pensei "tudo bem, vou dormir a viagem inteira mesmo" e aceitei sem reclamar. Na saída de Denver o piloto nos informou que teria que fazer um pequeno desvio na rota por causa de uma tempestade de raios no meio do caminho. Pensei "tudo bem, vou dormir a viagem inteira mesmo" e continuei folheando a minha revista enquanto o avião não decolava.

O avião decolou e, adivinhe? Fiquei olhando pela janela durante um tempão, admirando a beleza diferente do Colorado, com aquelas áreas de plantação imensas e uma casinha aqui e outra acolá. A paisagem me lembrou muito o filme Twister. Até que chegou uma hora em que o cansaço foi maior do que a criança que ainda existe em mim e eu dormi. Numa das abridelas de olho dei outra espiada na janela e não voltei a dormir. Estávamos passando ao lado da tal tempestade de raios e eu pude ser testemunha de um dos espetáculos naturais mais lindos que alguém pode ver. O moço que estava sentado a minha frente filmou tudo e, não fosse a vergonha, eu teria pedido pra ele me mandar uma cópia do vídeo.

Já faltando bem pouco pra chegar ao La Guardia, dei outra olhada pela janela e fiquei embasbacada com a vista. Foi a primeira vez que vi Manhattan do alto assim (lembre-se que sempre estou sentada no corredor). A noite estava muito limpa e eu fui apreciando tudo, desde a Estátua da Liberdade até o Empire State. Saí do avião feliz! Me sentindo um pouco criança de novo.

Não acredito que eu vá voltar a escolher janelas nas minhas próximas viagens aéreas, mas com certeza vou me lembrar que não me arrependi da última vez em que abri mão do corredor. É sempre bom dar uma olhadinha pela janela, apreciar o que está do lado de fora. E isso não vale só na hora de viajar.