Sabe o que?
Tenho sentido falta de histórias pra contar, como se a minha vida andasse murcha, opaca, sem graça.
Aos 92 anos, posso dizer que já fiz quase tudo o que um homem pode ter sonhado, almejado fazer.
Subi o Everest (sem oxigênio suplementar!), atravessei o Canal da Mancha e o Estreito de Bering a nado, participei de expedições aos pólos norte e sul, escalei o Mount Rushmore (essa foi engraçada...), mergulhei com tubarões brancos, desci as Cataratas do Niágara num barril (roubei a idéia do Pica-pau)... Enfim, posso dizer que a minha vida até hoje foi bem animada.
No caminho que trilhei colhi, além de aventuras memoráveis, amigos que preencheram com louvor a falta da família, perdida ainda na infância. Posso dizer, não sem um certo orgulho, que fui responsável (indireto, é verdade) pelas teorias que levaram alguns desses amigos às listas de laureados do prêmio Nobel. Também contribui com as pesquisas da corrida espacial e, mais recentemente, da cura do câncer.
Fui casado por três vezes e não tive filhos. Essa talvez seja a grande mancha na minha história. Adoraria ter tido netos. Hoje provavelmente já teria bisnetos e talvez pudesse enxergar a vida com as cores de antes. Ainda que fosse através dos olhinhos deles...
Hoje, aos 92 anos, começo a entender que histórias não me faltam. As que não tenho, posso criar. Aos 92 anos, entendo que me falta mesmo é burburinho de casa cheia, barulho de crianças correndo no quintal, cheiro de bolinho de chuva vindo da cozinha.
Entendo que a vida à qual tanto dei valor do lado de fora, hoje me faz falta aqui dentro. Dessa casa, dessa sala, do coração.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
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